fevereiro 19, 2005

A MORTE CHEGA

O negro e suave manto pútrido encobre o meu olhar,
Flores são postas aos meus pés, me cobrem por inteiro
Pessoas estão distantes, avessas ao ocorrido.
Não há lágrimas a sair dos olhos, nem rostos tristes a me ver.
Estou só, dentro de uma caixa de madeira moída e prensada,
coberto de flores que me fazem companhia, mas foram companheiras de outros.
Nada é novo, nada é novidade, tudo é morte, estagnação e podridão.

Vejam o solitário a ficar ainda mais só,
Ali jaz aquele que era muitos, mas ninguém o conhecia.
Era Eric Seerlot, um jovial mago Cornival, vivendo e aprendendo,
Em um mundo de magia secreta e misteriosas criatuas.
Era Eric Coração do Asfalto, o jovem e o novo, o pacifista e conciliador,
Um lobisomem que andara a face de Gaia a pregar a paz.
Foi um dia Adrielle Frontier, uma vampira fria e calculista, Lasombra e Gangrel,
Matava sem piedade, sádica, bela e fatal.
Fora anteiormente Thor Knives, um mago vazio, que andara pelo mundo negro,
Com negros pensamentos e alma translúcida e a brilhar.
Enfim, fora tantos outros que esquecera de ser quem era,
Esquecera de seus sentimentos, de suas vontades, ansiedades e desejos,
Era um jovem rapaz, indeciso, indefinido, incapaz, indecifrável.

Morreu de morte morrida e matada, morreu por não viver, jamais viveu.
Vagou pelo mundo, pela Face de Gaia, ou pelo plano físico,
Mas apenas vagou, viu e ouviu, era máquina, era metal.
Não amou, não sonhou, ou melhor, apenas sonhou.

Passou a vagar, vagar sem rumo, sem destino, sem porto.
Era solitário, era um corpo inerte a vagar pelo espaço.
Ocupando o mesmo, usando o ar e o alimento dos outros.
Pois enfim morreu, morreu de morte morrida e matada.

Esta é a história daquele que muitos era, mas sem ser alguém
Um jovem, com destino traçado, com a morte em seu percurso.
Um amigo que tudo dava, sem nunca pedir...
Por fim, morreu só, deitado em berço de flores de outros,
Flores estas que cheiram a morte, a morte velha, morte morta!

Este breve poema é de minha autoria, feito agora às pressas, expressando aquilo que penso há alguns dias.
Não morri na realidade, mas não posso dizer que vivi realmente. Vejo em outros a vida que não me arrisco a ter, vejo em seus olhos a alegria de ser quem são, algumas vezes me causando inveja, em outras apenas vontade de ser mais um personagem.
Não serei desoneste neste ponto, pois aqui é minha rota de fuga, meu escape, onde aqueles que desejam ler e responder tem a liberdade de fazê-lo. Muito tempo atrás eu mesmo criticava tal ato, de se mostrar em público, de abrir seus pensamentos e sentimentos em um local onde qualquer um poderia ler. Achava ridículo! Agora entendo cada dia mais o que as pessoas buscam ao colocar seus sentimentos na internet, seus pensamentos, pois eu mesmo estou sentindo isso. A necessidade de ser aceito, de pertencer a algum lugar, de encontrar pessoas com mesmos sentimentos ou que passaram por situações similares. Essa necessidade de pertencer, de se sentir parte de algo é fundamental para nós animais, é como se o grupo nos desse a segurança e a habilidade de sermos mais.
Eu raramente sentia isso, mas agora, após muitas mudanças que me fizeram crescer e ver melhor cada lado da moeda, hoje depois de me isolar do mundo por diversos anos, com medo de me apegar e ter de deixar, de tanto apanhar por deixar para trás as conquistas que havia feito, as amizades forjadas ou mesmo recém semeadas... mas as mudanças vinham e matavam as sementes e destroçavam as forjas. Nada durava, nada permanecia. Enfim isso marcou minha vida de forma única. Hoje, sou como sou, algumas vezes frio e calculista, outras coração de manteiga derretida. Um paradoxo, algo único e realmente espero ser único, pois somente sofre aquele que percorre este caminho.
Vivo a vida dos outros, sem ter minha própria. Fantasio muito e imagino ser o outro, quando nem sei ser eu mesmo. Cada dia que passa o buraco é maior e mais difícil é sair deste poço. Não há amigos que possam me ajudar, pois eu os afasto quando caio e os levanto ao subir, mesmo que isso me faça cair posteriormente.
Já fui alertado por vários que isso não se deve fazer, que isso apenas irá me machucar ainda mais, porém não ligo. Sou idiota neste aspecto. Sempre vi meu pai a elogiar os outros e esquecer da família, infelizmente estou a seguir seus passos, este foi o modelo, estou a seguí-lo, mesmo sabendo o quanto sofri com isso. Não é sábio copiar o erro alheio, mas será que consigo escapar da sina que me foi dada!? Terei eu forças para ser como eu deveria ser e não como estou sendo!? Ou eu sou o que eu deveria ser, sendo desta forma?
As mudanças são medonhas, o escuro está lá fora... não temo o escuro, mas sim o que ele pode esconder. O medo me afasta de muitas coisas, de dizer um simples "eu te amo" ou mesmo de sentir aquilo que dizem ser o amor. Sou mestre em manipular meus sentimentos, mesmo que isto custe muito, continuo a fazê-lo. Talvez o que eu sinta por uma pessoa seja o reflexo do que senti por outra e jamais consegui modificar o sentimento, apenas mudá-lo de direção. Se isto realmente for a verdade, então devo me redimir com muitos que cruzaram meu caminho. Devo quase pedir clemência a várias pessoas, pois o que fiz foi egoísta, foi sujo, foi cruel.
Espero não estar errado quanto àquilo que penso ser real, que penso ser verídico, mas se estiver, cometi erros imperdoáveis, nem mesmo eu conseguiria perdoar se fizessem o que fiz comigo.... não tenho coragem de pedir perdão, pois não me perdoaria se descobrir que estive errado.
Se eu estiver errado, que Deus me perdoe, pois não me perdoarei... não irei morrer, nem desaparecer, mas possivelmente a vergonha irá cobrar seu preço.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Matar, ressuscitar, viver, crescer . São todos elementos daquilo que compõe a vida. Viver é, em parte, morrer a cada dia, mas se vê assim sempre é um morrer mais rápido. Viver é um renascer no dia seguinte mais forte. Mas saber morrer é também importante. Temos saber que ao morrer deixamos algo para trás e isso para trás não mais importa e nem deve incomodar e se incomodar, é que você é ainda um zumbi, com carnes dependurados no seu corpo, usando trapos de cemitério e gritando Cérebroooooooooooo.

Mas ao morrer, que seja importante que você saiba que nem todas as suas ações são voltadas ao passado, mas aquilo que você torna do passado importante no dia de hoje. Se você diz que tal, ou aquele são importantes, por algum motivo, acredite, eles terão importância na sua vida. Então Gui, pense, quando, como e se estar certo que quer morrer alguma parte sua, pois até que os corpos sejam levados pela putrefação da carne, até que isso ocorra, vc viverá com os restos mortais de uma coisa que não é mais você. Mas é algo bom morrer algumas dessas certezas, talves para botar novas no lugar.

1:35 AM  

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