junho 25, 2007

ENTÃO, É ASSIM?

A cada dia que passa, cada minuto que se esvai nas rápidas areias do tempo, morremos. Algo morre dentro de cada um, algo que tempo atrás brilhava, resplandecia e iluminava se apaga, se esvai, deixa de lá estar. Nós vivemos a vida, sem jamais pensar que a vida nada mais é do que sucessivas mortes, quase infinitas mortes e enterros.

Podemos até parar e pensar, se a vida é a morte, então qual o motivo para vivermos? Qual o real significado da vida? Essas são as perguntas que mais atormentam a humanidade desde o seu início, e creio sinceramente que irão continuar a fazê-lo até o fim da mesma. Não sabemos de onde viemos (exceto se nos contentarmos com a resposta clássica, de dentro de nossa mãe), nem nunca saberemos ao certo.

As perguntas existem para nos incentivar a progredir, a seguir em frente sem esquecer o motivo pelo qual começamos a caminhada. Mas qual é esse motivo? Qual a real intenção de vivermos? Ao menos existe uma? Para responder a tudo isso é necessário acreditar em hipóteses, teoremas, teorias e dogmas. Você pode dizer olhando em meus olhos que não é bem assim... eu lhe direi diretamente, você tem certeza disso? Consegue provar o que me fala de forma única e incontestável? Se você conseguir isso, e souber de onde veio e pra onde vai e o motivo de aqui estar.. então você deixa de ser humano, você deixa de estar entre nós, de ser um de nós. É inato do ser humano a dúvida, a incerteza, o questionamento (apesar deste último me fazer questionar se alguns espécies físicos de Homo sapiens realmente o são....).

Há realmente a necessidade de sabermos tudo? De sabermos o motivo pelo qual estamos aqui? De sabermos os propósitos de nossas ações? Não sei a resposta destas perguntas, mas sei que se soubéssemos, não creio que agiríamos da forma como agimos, creio que a respostas elucidariam muito da nossa vida, de nossas crenças, de nós mesmos. Você tem o direito de perguntar, "mas você consegue provar isso? Como você sabe disso? Ao menos você sabe não é mesmo?", eu ficaria até sem graça com essas perguntas, pois saber eu não sei, não consigo provar também, mas sinto que seria assim.

Sentir... que coisa, que palavra estranha não? O que é sentir? É como quando o vento nos toca a pele e então sentimos ele? Ou como o fogo, ou a água ou a terra, ou outra pessoa? Diria eu que não, esse sentir é tão... material, tão longe do que procuro expressar... O sentir é algo que vem de dentro e de fora simultaneamente, é frio e quente, é ambíguo e claro, é lento e rápido, é algo que não tem descrição, ao menos não como eu gostaria de colocar. Pois como afirmar que amamos alguém, se o amor não se sente? O amor não é físico (bom, agora abro esse espaço para afirmar que sim, o amor é físico, nada mais é do que dezenas de centenas de milhares de processos químicos [ou bioquímicos] que ocorrem no interior de pequenas partículas de nós mesmos, as células. Nada mais é do que isso, processos [bio]químicos que produzem substâncias que são transmitidas e que criam as sensações caracterizadas como o amor), então ele não existe? Bom, o amor romântico, o amor literário, aquele que consome o ser como o fogo que consome a madeira da fogueira... esse não é o amor, isso nada mais é do que a paixão, pois é a paixão que destrói, que nos mobiliza a querer, a possuir, a tomar para nós. O amor, ao menos a definição menos incoerente deste algo que não existe, é algo que constrói, nos torna melhor, auxilia a tudo e a todos, enfim o princípio criativo. Entretanto, isso é a versão mais cristã da palavra, eu ainda não consegui me desligar desses aspectos da minha existência...

Por que eu quero me desligar disso tudo? Existe um motivo para querer isso? É bom querer isso, ou é ruim? Quais as conseqüências desse ato? Quais os prós e os contras?

Perguntas e mais perguntas, são tantas que poderia escrever uma enciclopédia só com as perguntas que existem dentro de mim e que não tem força para saírem, ao menos não na forma que eu desejo que saiam. Novamente, "eu desejo", e quem sou eu parar desejar algo? E quem é quem para desejar? Mas o desejo não é bom? Não é ele que nos impele a não estacionar? Não é ele que nos dá forças quando já estamos derrotados, deitados no solo lamacento onde a água, o sangue dos mortos e a chuva se misturam com o nosso corpo, apenas aguardando o desligar, o fim disso tudo, ou a passagem para um outro plano, para uma outra realidade melhor do que esta?

E há outra realidade? Existem mesmo o nirvana, o céu, o inferno, a ascensão, outro planos de realidade, outras dimensões? Há quem diga que sim, há quem diga que não, e há sempre aqueles, que como eu, apenas querem saber, não dizendo nem que sim, nem que não.

Relendo tudo o que escrevi, notei a minha constante mudança de assunto, minha falta de foco, minhas dezenas de aberturas de assunto, sem – ao que parece – conseguir concluir ao menos um deles. Interessante a análise deste texto por quem o escreve. Consigo notar a minha inquietação, a minha vontade de seguir adiante, e o meu medo de sair da onde estou. Vejo com clareza a ânsia de experimentar coisas novas, de sentir e saber coisas que nem imagino no momento se, de fato, são reais, se existem. Noto o vazio das palavras, das frases e dos parágrafos perto daquilo que tenho comigo e que não consigo exteriorizar. Averiguo também a minha constante indecisão e incerteza, amigas bem íntimas, acredito que até em demasia. Evidencio também a minha ilusão que se esvai, os pedidos calados de ajuda que gritam dentro de mim, a falta de esperança (mas... esperança em que?), a falta dos sonhos que um dia iluminaram o meu ser, a dor de quem é rejeitado e precisa modificar seus sentimentos, sem perder a própria essência.

As respostas de tudo isso são várias e nenhuma, são todas misteriosas, existindo (como dizem por aí) dentro de cada um, são respostas individuais e únicas. Cabe a cada um olhar para si mesmo, nos âmbitos mais claros e felizes como nos locais mais escuros e miseráveis, e experimentar as alegrias dolorosas e o desespero elucidado, para então, saber as respostas. Diria ainda mais, cabe a cada um de nós, sair por aí conhecendo o TODO ao nosso redor, as filosofias e as religiões, os grupos ocultos, a sabedoria contida em cada ação, em cada circunstância, em cada momento que se esvai com o tempo. A única certeza é a da morte, ao menos a morte física. Pois tudo o que nasce morre, tudo o que vive, morre, aos poucos ou de forma brusca, lentamente ou num instante.

A morte é sempre presente, sempre constante em nossa existência. Não há motivo para tamanho medo ou tabu em falar dela. Ela existe, ela está em nós o tempo todo, NADA desconhece a morte, NADA.